Penso muito no que não faço, ou por falta de tempo ou por falta de estímulo. Muitos dizem aquela máxima: "se não te dão flores, plante um jardim", algo assim. Admiro quem não guarda mágoas, quem parece não ter memória, quem não remói acontecimentos chatos. Outra máxima é "arranjar o que fazer, mente vazia é oficina do diabo". Adoro um projeto, que não seja só intelectual mas braçal também. Se estou como agora, na frente do pc ou da tv, me deixo agarrar pela teia do entretenimento e da informação e me esqueço do meu mundo real. Erro, basta criar disciplina e estabelecer um limite de tempo. Numa casa como a que moro, nunca falta o que fazer, aqui falando de trabalho doméstico. A energia é esgotada quase que completamente no básico, que é limpeza e alimentação. Praticamente não sobra ânimo para viajar numa arrumação como a que adio há séculos, a das fotos da família. Não lembro da última vez que imprimi fotos, para finalmente renovar a estante de porta-retratos. Uma receita bacana, cadê disposição? Desculpe a todos se pareço um disco riscado, mas parece que a maioria ou tem filhos já adultos ou crianças e não sabe/lembra como é difícil a fase adolescente... Uma dica pra quem tem filhos pequenos: eduque-os para arrumarem seus quartos desde sempre. Ensine-os a lavar louça, a saber guardar tudo nos lugares certos. Maiorezinhos, ensine o processo de lavagem de roupa, nunca deixar uma peça com manchas no cesto. Doutrine-os a saberem se portar em viagens com relação à bagagem, fazer check list de tudo que for levar. Mesmo tendo arrumadeira, nunca deixe-os sem responsabilidades, é um perigo crescerem com essa sensação de que alguém sempre irá cuidar desses assuntos para eles e você terminar sobrecarregada, especialmente quando eles trazem amigos para passar o dia ou até dormir em sua casa. Outra máxima: "quem pariu Mateus que o balance". Sempre fizemos questão de cuidar, eu e marido, das crianças, em todos os aspectos. Banho, passeios, médicos, nenhuma experiência deixamos de viver com elas. Poucas vezes delegamos a outros cuidar deles, só raramente quando saíamos à noite, e sempre pessoas de alta confiança, a maioria familiares. Penso às vezes que os protegemos muito, que no afã de poupá-los da crueza do mundo os deixamos menos aptos para enfrentá-lo. O fato é que esperava mais ajuda sem precisar agir como a bruxa má. Que cuidassem ao menos de seus próprios quartos, que me dessem uma folga cuidando dos pets sem que eu tenha que chamar atenção continuamente... São bons filhos, mas não têm iniciativa nem perceberam a mudança dos tempos e ainda ficam esperando o dia que uma nova faxineira irá aparecer.

Cheguei a comprar a revista para que lessem a matéria e compreendessem que, tirando o absurdo de passar aspirador de salto e cabelo solto, cuidar do que é seu, zelar pela higiene de onde se vive, se dorme, se come, é civilizado, é primeiro mundo. Lembro do dia, quando tinha uns oito anos, quando minha mãe me ensinou a lavar um banheiro. Não recordo tanto a didática empregada, mas me pareceu divertido ensaboar tudo e dar valor ao trabalho realizado, ao cheirinho de limpeza. Pra cozinhar a mesma coisa. Sou irmã mais velha de cinco e quando as ajudantes sumiam eu tinha que encarar fogão e tentei de todo jeito criar uma tabela para dividir as tarefas entre todos. Eram brigas e aborrecimentos sem fim, eu acabava desistindo e fazendo tudo sozinha, como acontece hoje com os filhos. Creio que é uma questão de temperamento, sempre fui cordata e aceitava os argumentos dos mais velhos como certos, então me submeti e não consigo passar esse conceito aos rebentos... Fazer o quê? Como a Deusa, dos Vasinhos Coloridos, só me resta botar o som na caixa, creme na cara e enfrentar as escolhas que fiz, pois em nenhum momento ficou subentendido que, por eu dar à luz, alimentar, vestir, amar, mimar, garantia eterna gratidão e reconhecimento. Isso um dia pode chegar, ou não. Mas eu os amo mesmo assim e desejo de todo coração que minha inaptidão em conscientizá-los seja parte de um plano divino de purgação pelo trabalho que dei à minha mãe um dia e no futuro todos havemos de dar boas risadas de todo esse dramalhão...
Beijos