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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Asas

Hoje estou escrevendo do quarto do primogênito. Aqui estão boa parte de suas roupas, sua cama, seu teclado, estante, livros e parafernálias eletrônicas. Pois bem, ele deu uma voadinha pro hemisfério norte e só volta daqui a um ano. Estudos. Todos dizem que vai voltar mais maduro, e eu acredito. Tento me lembrar quando tinha 21 e dos meus sonhos. Sempre sonhei muito, com muita coisa. Mudava o enredo do sonho conforme eu crescia e criava novas referências. Meus pais me deram um leque de oportunidades razoável, e tive condições para realizar diferentes projetos, nada me foi exatamente negado. Algumas coisas que eu sugeria fazer recebiam críticas e eu me deixava abalar por muito pouco. Creio que de todas as paixões que tive, em nenhuma eu mesma botei fé que daria certo. Sempre prestes a desmoronar na primeira falta de apoio, na primeira troça que faziam. Ou seja, sempre tive asas, mas nunca me atrevi a voar de verdade. Tenho medo de altura, sinto vertigens nas subidas e descidas de brinquedos de parques de diversões. Não sinto prazer com essa adrenalina do perigo, não desse tipo. Amo caminhadas tranquilas, gosto de descobrir os mistérios devagar, reconhecendo a área e buscando uma zona de conforto. Lembrei da personagem de Little Women, Beth, perguntando a Jo:"Porque todos têm que ir embora?" O pai, para a guerra; Amy,estudar artes na Europa; a própria Jo, que partiu para a cidade grande tentar a carreira de escritora, enquanto Beth amava sua casa, seu jardim, suas bonecas, o aconchego do lar, da família. Era apegada aos tempos da adolescência em que todas brincavam no sótão da casa, Jo escrevia histórias que elas interpretavam, criaram até uma sociedade secreta. Sempre haverá aqueles que querem subir mais alto, enxergar o mundo de cima, visualizar as possibilidades, enquanto outros preferem sentir a grama nos pés, contemplar um horizonte mais familiar e limitado. Às vezes o receio do desconhecido vem das quedas já sofridas, oriundas de escaladas arriscadas. Puro erro de estratégia, de planejamento. Poderia haver uma nova chance de voar, se munindo de muito material de segurança, mas esse peso todo pode atrapalhar o percurso. Ser corajoso, como aqueles praticantes de slack line, que se divertem atravessando precipícios apenas com um cinto de segurança, descalços, livres de todo excesso de bagagem, material e emocional, parece ser a resposta. Voar é para os fortes, ou para quem a terra firme soa como um lastro desnecessário.

2 comentários:

Adriana Balreira disse...

Edlena,
Sou como vc, tenho asas mas nunca as usei. E saiba que seu filhote vai voltar muito mais maduro mesmo. Meu irmão foi estudar nos EUA aos 17 anos e lá ficou! Já tem mais de 17 que ele mora la. Fez faculdade,mestrado e doutorado. Outra vida la!
Beijos
Adriana

Edlena Franklin disse...

Adriana
Não falta gente que dê corda pra que ele fique por lá. A própria conjuntura do país leva a buscar uma fuga assim. Para os mais jovens, é sempre mais fácil assimilar a nova cultura, se adaptar. Torço pela felicidade dele, mas principalmente pela capacidade de se cuidar sozinho, mesmo com meu coração de mãe doído.
Beijos,
Edlena